21.6.03

Toda a vez que chega o Verão, como desta vez, o quarto do madala

Adalfredo costuma não aguentar muito calor.

O sol do meio-dia, al�m de se derreter no zinco que protege a

mesinha de cabeceira, penetra tamb�m por um enorme vazio, deixado

por um zinco que sempre faltou. Adalfredo Faz de Tudo, de seu nome

completo, chegara a ter o dinheiro para comprar aquele zinco, mas

porque quisera apressar a inaugura�ão da casa, optara em comprar

bebidas no candongueiro.

Agora a casa sofre de dores de coluna, e parece-se com ele quando

encurvado com a bengala.

É por causa desse sol do meio-dia, que Adalfredo estende-se

horas e horas na sombra da bananeira. O calor aperta o passo, a

sombra abandona-lhe, mas Adalfredo não sente a careca a transpirar.

Como que há-de sentir? Os olhos roubaram a mente e foram ficar lá,

no infinito.

Cansado de ficar distante, a sua vista mergulhou-o na escuridão.

E a mente come�ou a levá-lo para viajar na boleia dos tempos em que

a sua careca ainda curtia na juventude. Lembra da Maria Das Dores, a

única mulher que já adorou de verdade, aqueles rapoios de fazer

inveja, aquelas tetas ainda verdes que saltavam a corda, bastava Das

Dores andar depressa. Lembra do dia do lobolo que ficou com dúvida

de duas capulanas de chita. Lembra de tudo, desde o dia que viu Das

Dores passar pela esquina do Muchina, onde ele vendia dobrada. Mas,

Maria Das Dores perdeu-se no tempo. Perdeu-se na noite em que

Macuacua, aquele stapor, com bra�adeira castanha-amarela e nariz

impinado, arrombou a sua porta e indicou-o aos milícias:

- Ele � desempregado!
...










Joaquim

Autor : Joaquim Fale < joaquim@joafal.uem.mz >.
Foto : Peter Frank
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