27.12.09

Num meio-dia de fim de Primavera ~ Tive um sonho como uma fotografia. ~ Vi Jesus Cristo descer à terra. ~ Veio pela encosta de um monte ~ Tornado outra vez menino, ~ A correr e a rolar-se pela erva ~ E a arrancar flores para as deitar fora ~ E a rir de modo a ouvir-se de longe. ~ Tinha fugido do céu. ~ Era nosso demais para fingir ~ De segunda pessoa da Trindade. ~ No céu tudo era falso, tudo em desacordo ~ Com flores e árvores e pedras. ~ No céu tinha que estar sempre sério ~ E de vez em quando de se tornar outra vez homem ~ E subir para a cruz, e estar sempre a morrer ~ Com uma coroa toda à roda de espinhos ~ E os pés espetados por um prego com cabeça, ~ E até com um trapo à roda da cintura ~ Como os pretos nas ilustrações. ~ Nem sequer o deixavam ter pai e mãe ~ Como as outras crianças. ~ O seu pai era duas pessoas - Um velho chamado José, que era carpinteiro, ~ E que não era pai dele; ~ E o outro pai era uma pomba estúpida, ~ A única pomba feia do mundo ~ Porque nem era do mundo nem era pomba. ~ E a sua mãe não tinha amado antes de o ter. ~ Não era mulher: era uma mala ~ Em que ele tinha vindo do céu. ~ E queriam que ele, que só nascera da mãe, ~ E que nunca tivera pai para amar com respeito, ~ Pregasse a bondade e a justiça!

Extracto de um poema de Alberto Caeiro sobre imagem de um azulejo
do Menino Jesus da Ladeira, existente em Arganil .

2 comentários:

Anónimo disse...

Olha, o blog do Piscoiso.
Tás bom pá?

Piscoiso disse...

Estou bom e a tentar digerir o Natal.